terça-feira, 30 de junho de 2009

Mickael Jackson e Madonna chegam aos 50 sem deixar herdeiros.


É preciso deixar registrado esse momento, no qual anuncia-se a perda de um ídolo que marcou geração. Não importa se falam mau ou bem, o importante é que esse homem marcou uma época, independentemente de idade, raça ou religião. Michael Jackson deixou eternamente suas músicas para as próximas gerações, deixou as incognitas polêmicas. A matéria abaixo relata a vida dos dois icones da música mundial, correção, hoje estamos apenas com um ícone vivo da música que é MADONNA. Bem, leia e tirem suas conclusões, afinal direta ou indiretamente eles influenciaram e influenciam a sociedade.

Falar sobre os mestres do universo da música pop é sempre relevante. Embora [quase] tudo já tenha sido dito, há sempre uma curiosidade a mais em torno dos ícones Madonna e Michael Jackson. Comemorando 50 anos em agosto, os reis do Pop são sinônimos de uma espécie de artistas à beira da extinção.


Eles foram responsáveis por dar seqüência, nos anos 1980, a um trabalho que Elvis, Beatles e David Bowie se ocuparam em difundir nas décadas anteriores. Ainda no topo, Madonna estréia esta semana a turnê Sticky & Sweet Tour, que virá ao Brasil em dezembro, ao passo que Michael Jackson está prestes a lançar mais um álbum de greatest hits, após ter ensaiado uma volta aos palcos junto dos irmãos, no ano passado. Dessa vez, são os fãs que vão ajudá-lo a escolher as faixas do disco. Com altos e baixos no caminho, Madonna e Michael deixam um legado impossível de apagar e a cultura pop, orfã de novos ídolos.


Michael Jackson estava condenado desde o início. A veia artística estava lá, mas o menino de 8 anos não tinha noção do que se tornaria quase 20 anos depois. Madonna estava dominada por seu próprio desejo quando decidiu tornar-se a artista que é, diferentemente de Michael, vítima do autoritário pai, Joseph, que o inseriu no Jackson 5. As apresentações do cantor à frente dos irmãos - Jackie, Tito, Jermaine e Marlon -, encantavam o público pela presença e carisma.


Na época, Diana Ross, Marvin Gaye e Stevie Wonder, todos da gravadora Motown, dominavam as paradas de sucesso embalados pelo soul. No final da década, o grupo ficou pequeno para o sucesso de Michael. Em 1979, produzido por Quincy Jones, o cantor daria o salto definitivo para a carreira solo. Michael agora vivia a era da disco e, sem cerimônia, emplacou hits como Don't Stop Till You Get Enough e Rock With You, no disco Off The Wall.


Em 1978, uma ambiciosa dançarina já vagava pelas ruas de Manhattan. Madonna desembarcou em Nova York com apenas uma pequena mala e 35 dólares. E não demorou muito para que trocasse o sonho de ser uma grande bailarina pela carreira musical. Afinal, era o sucesso que ela buscava. Durante o tempo que morou numa sinagoga abandonada com o namorado Dan Gilroy, aprendeu a tocar bateria. Pouco depois, estava à frente da banda Emmy e desesperada por um contrato de gravação. Através do DJ Mark Kamins chegou até Seymour Stein, da Sire Records, e fechou seu primeiro contrato: 15 mil dólares para produzir dois singles: Everybody e Burning Up, com uma pegada mais rock, no final de 1982, ano divisor de águas da música pop.


Entre a decadência da disco e o começo da new wave, o álbum Thriller, de Michael Jackson, trouxe a sonoridade que marcaria a década de 80, influenciando as gerações seguintes. A levada pop construída por Jackson e Quincy Jones, sem abandonar as raízes da black music, transformaria-se numa fábrica de hits, montanha de prêmios e milhões de cópias vendidas. As 50 milhões de cópias que Michael Jackson vendeu no mundo todo, às custas de Billie Jean, Wanna Be Startin Something, Beat It, The Girl is Mine - esta em parceria com o ex-beatle Paul McCartney, e a faixa-título, estão impregnadas no inconsciente coletivo.


O moonwalking tornou-se tão kitsh quanto uma lata de sopa Campbell assinada por Andy Wahrol. Nunca um cantor negro havia alcançado este patamar. Será que Michael precisaria de uma nova identidade para seguir adiante? Os anos seguintes comprovaram que sim.


Quando recebeu a letra de Like a Virgin, o produtor Nile Rodgers, que tinha acabado de produzir o disco Let's Dance, de David Bowie, considerava a faixa pouco expressiva. Mas, obstinada, Madonna o convenceu de que esta seria o carro-chefe do novo disco. Durante uma entrevista na MTV, em janeiro de 1984, foi profética: "Eu quero conquistar o mundo". Meses depois, lá estava ela outra vez, só que agora vestida de noiva, em cima de um bolo de casamento gigante, pronta para cantar Like a Virgin pela primeira grande vez. A performance tomou de assalto os telespectadores, que passaram a comprar cópias e mais cópias do single, que vendeu até hoje, 10 milhões de cópias só nos EUA.


Embora tenha gravado menos álbuns que Madonna, Michael foi responsável pelo hino We Are The World, com a participação de mais de 20 artistas, entre eles Tina Turner e Lionel Ritchie, em combate à fome na África, em 1985. Ironicamente, hit foi derrubado por Crazy For You, primeira balada gravada por Madonna, que não havia participado do single beneficente.


Para seu terceiro álbum, True Blue, ela mudou completamente o visual. Jackson fez o mesmo. Madonna ressurgia loura e mais magra quando Jackson apareceu, em 1987, com a pele bem mais clara o nariz nitidamente mais afinado no lançamento de Bad. Madonna voltou a ser morena em Like a Prayer, disco que lhe deu credibilidade na indústria musical, puxado pela polêmica do vídeo da faixa-título, que irritou a Igreja Católica e fez com que a Pepsi cancelasse o patrocínio de sua próxima turnê, a Blond Ambition.


O disco Bad fez muito sucesso e colocou seis músicas no topo das paradas, mas não repetiu o êxito de Thriller nas vendas. A obra-prima pop, lançada cinco anos antes, por incrível que pareça, ainda permanecia entre os 200 discos mais vendidos da Billboard. Para entrar na década de 90, Michael retornou às paradas com seu disco mais experimental, Dangerous. No ano anterior, Madonna havia colocado o mundo para dançar com Vogue. Foi quando os ícones tornaram-se amigos.


Na cerimônia do Oscar, em 1991, Madonna convidou Michael para acompanhá-la. Vestida como Marilyn Monroe, ela cantou Sooner or Later coberta por diamantes avaliados em 21 milhões de dólares, revivendo a Material Girl do começo da carreira. Michael havia convidado Madonna para participar da faixa In The Closet, do disco Dangerous. O poderoso dueto acabou não acontecendo. O clipe da faixa acabou tendo a participação de Naomi Campbell. Ela queria que Jackson se vestisse de mulher no vídeo, o que deixou o cantor desconfortável. Madonna já estava produzindo o polêmico Sex, livro no qual encarna a personagem Dita em diversas posições eróticas.


Em 1993, ambos teriam suas carreiras arranhadas justamente pela sexualidade. Michael foi processado por conta de uma acusação de assédio sexual, envolvendo um dos meninos que freqüentavam sua casa, o rancho Neverland. O escândalo manchou a reputação do artista, agora branco e cada vez mais controvertido e fez com que ele pagasse alguns milhões para a família do garoto. Por conta das críticas negativas do disco Erotica, Madonna decidiu sair em turnê para revitalizar sua popularidade. O mesmo fez Jackson, que prossegiu com a turnê do disco Dangerous. Pela primeira vez, Madonna e Michael Jackson se apresentaram no Brasil.


E esta foi a última vez que seus caminhos se cruzaram. Nos anos seguintes, Madonna trilharia um rumo muito diferente do de Jackson. Preocupada com a reputação artística, ela começou a trabalhar com produtores que trouxessem novas sonoridades. Vieram colaborações com Björk [em Bedtime Story], Massive Attack [ no cover de I Want You] e, finalmente, o respeito que vinha buscando desde que surgiu. O produtor William Orbit foi um facilitador Beirando os 40 anos , a cantora tinha expandido sua extensão vocal, bebendo de batidas eletrônicas mais sofisticadas.


Michael Jackson lançou em 1995, HIStory, álbum duplo que trazia um CD de inéditas e outro com seus grandes sucessos. O astro estava casado com Lisa Marie, filha de Elvis Presley. Michael detinha total controle sobre a obra dos Beatles, que adquiriu por uma bagatela, e do próprio Elvis. Gravou um dueto com a irmã Janet [Scream] e emplacou sua última música número 1 na parada da Billboard, a açucarada You Are Not Alone. No clipe, um Michael branquelo, de cabelos lisos, troca carícias com a então esposa, Lisa Marie Presley.


Michael só lançaria um novo álbum em 2001, o fracasso Invincible. Nesta época, quem dominava, mais uma vez as paradas, era Madonna. O disco Music resumia muito bem a sonoridade dominada pela música eletrônica, que ela começou a trabalhar em Ray Of Light, de 1998. E vieram as Spice Girls, Britney Spears e Justin Timberlake. Todos em busca de um lugar ao sol na música pop. Mesmo com Amy Winehouse, a verdade é que, por falta de uma identificação, criatividade ou carisma, "os nossos ídolos ainda são os mesmos, e as aparências não enganam, não". Em abril, Madonna lançou seu 11º álbum de estúdio, Hard Candy, produzida por Timbaland e Pharell Willims. E permanece ídolo. Tem mais alguém?

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Uso de Tecnologia em Sala de Aula - importância atual

Foi publicado neste mês de junho na Revista Nova Escola, matéria onde fala exclusivamente sobre o uso da tecnologia nas salas de aula. Esse blog irá sempre expor todo o material disponivel na revista para assim poderemos ter espaço livre onde possamos análisar, discutir e práticar interação, com a finalidade de trocarmos conhecimento teorico e prático.
Sugiro que os interessados adquiram a edição na integrar para aprimorar e apronfundar sobre o assunto da tecnologia na área educacional.

Segue a matéria inicial:

Um guia sobre o uso de tecnologias em sala de aula

Um painel para todas as disciplinas mostra quando - e como - as novas ferramentas são imprescindíveis para a turma avançar.

TICs, tecnologias da informação e comunicação. Cada vez mais, parece impossível imaginar a vida sem essas letrinhas. Entre os professores, a disseminação de computadores, internet, celulares, câmeras digitais, e-mails, mensagens instantâneas, banda larga e uma infinidade de engenhocas da modernidade provoca reações variadas. Qual destes sentimentos mais combina com o seu: expectativa pela chegada de novos recursos? Empolgação com as possibilidades que se abrem? Temor de que eles tomem seu lugar? Desconfiança quanto ao potencial prometido? Ou, quem sabe, uma sensação de impotência por não saber utilizá-los ou por conhecê-los menos do que os próprios alunos?

Se você se identificou com mais de uma alternativa, não se preocupe. Por ser relativamente nova, a relação entre a tecnologia e a escola ainda é bastante confusa e conflituosa. NOVA ESCOLA quer ajudar a pôr ordem na bagunça buscando respostas a duas questões cruciais. A primeira delas: quando usar a tecnologia em sala de aula? A segunda: como utilizar esses novos recursos?

Dá para responder à pergunta inicial estabelecendo, de cara, um critério: só vale levar a tecnologia para a classe se ela estiver a serviço dos conteúdos. Isso exclui, por exemplo, as apresentações em Power Point que apenas tornam as aulas mais divertidas (ou não!), os jogos de computador que só entretêm as crianças ou aqueles vídeos que simplesmente cobrem buracos de um planejamento malfeito. "Do ponto de vista do aprendizado, essas ferramentas devem colaborar para trabalhar conteúdos que muitas vezes nem poderiam ser ensinados sem elas", afirma Regina Scarpa, coordenadora pedagógica de NOVA ESCOLA.

Da soma entre tecnologia e conteúdos, nascem oportunidades de ensino - essa união caracteriza as ilustrações desta reportagem. Mas é preciso avaliar se as oportunidades são significativas. Isso acontece, por exemplo, quando as TICs cooperam para enfrentar desafios atuais, como encontrar informações na internet e se localizar em um mapa virtual. "A tecnologia tem um papel importante no desenvolvimento de habilidades para atuar no mundo de hoje", afirma Marcia Padilha Lotito, coordenadora da área de inovação educativa da Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI). Em outros casos, porém, ela é dispensável. Não faz sentido, por exemplo, ver o crescimento de uma semente numa animação se podemos ter a experiência real.

As dúvidas sobre o melhor jeito de usar as tecnologias são respondidas nas próximas páginas. Existem recomendações gerais para utilizar os recursos em sala (veja os quadros com dicas ao longo da reportagem). Mas os resultados são melhores quando é considerada a didática específica de cada área. Com o auxílio de 17 especialistas, construímos um painel com todas as disciplinas do Ensino Fundamental. Juntos, teoria, cinco casos reais e oito planos de aula (três na revista e cinco no site) ajudam a mostrar quando - e como - computadores, internet, celulares e companhia são fundamentais para aprender mais e melhor.

Edicação 223 - Revista Nova Escola - Junho 2009
Reportagem sugerida por oito leitores: Alana Cristina Lorde, Várzea da Palma, MG, Graziela Stein, Marabá, PA, Jaqueline Alves Silva Soares, Caetanópolis, MG, Karla Capucho, Vitória, ES, Kelly Silva Monteiro, São Gonçalo, RJ, Luciano Alves da Silva, São Lourenço da Mata, PE, Nadia Pereira Marques, Cristalina, GO, e Thais Silvestre Rosa, Rio de Janeiro, RJ

NOVE DICAS PARA USAR BEM A TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO

O INÍCIO. Se você quer utilizar a tecnologia em sala, comece investigando o potencial das ferramentas digitais. Uma boa estratégia é apoiar-se nas experiências bem-sucedidas de colegas.
O CURRÍCULO. No planejamento anual, avalie quais conteúdos são mais bem abordados com a tecnologia e quais novas aprendizagens, necessárias ao mundo de hoje, podem ser inseridas.
O FUNDAMENTAL . Familiarize-se com o básico do computador e da internet. Conhecer processadores de texto, correio eletrônico e mecanismo de busca faz parte do cardápio mínimo.
O ESPECÍFICO. Antes de iniciar a atividade em sala, certifique-se de que você compreende as funções elementares dos aparelhos e aplicativos que pretende usar na aula.
A AMPLIAÇÃO. Para avançar no uso pedagógico das TICs, cursos como os oferecidos pelo Proinfo (programa de inclusão digital do MEC) são boas opções.
O AUTODIDATISMO. A internet também ajuda na aquisição de conhecimentos técnicos. Procure os tutoriais, textos que explicam passo a passo o funcionamento de programas e recursos.
A RESPONSABILIDADE. Ajude a turma a refletir sobre o conteúdo de blogs e fotologs. Debata qual o nível de exposição adequado, lembrando que cada um é responsável por aquilo que publica.
A SEGURANÇA. Discutir precauções no uso da internet é essencial, sobretudo na comunicação online. Leve para a classe textos que orientem a turma para uma navegação segura.
A PARCERIA. Em caso de dúvidas sobre a tecnologia, vale recorrer aos próprios alunos. A parceria não é sinal de fraqueza: dominando o saber em sua área, você seguirá respeitado pela turma.
Fontes: Adriano Canabarro Teixeira, especialista de Educação e tecnologia da UFRGS, Maria de Los Dolores Jimenez Peña, professora de Novas Tecnologias Aplicadas à Educação Da Universidade Mackenzie, e Roberta Bento, diretora da Planeta Educação.

Um filósofo em nosso tempo atual - HABERMAS - 80 ANOS



Um pensador da razão pública

Considerado o filósofo vivo mais importante da Alemanha, Jürgen Habermas completa 80 anos. Saiba mais sobre seu período de formação, sobre sua "revolução linguística" na Teoria Crítica (base da "Escola de Frankfurt"), e sua presença no debate contemporâneo


Jürgen Habermas (Düsseldorf, 18 de Junho 1929) é um dos mais importantes e influentes pensadores da atualidade, tendo se notabilizado pela destreza em transitar por diversas áreas do conhecimento sem perder a visão de conjunto própria do saber filosófico. Trata-se de um teórico interdisciplinar, cujos trabalhos transcendem as rígidas fronteiras entre as disciplinas acadêmicas, e de um escritor prolífico, com mais de quarenta obras publicadas ao longo dos últimos cinquenta anos, além de um intelectual público que discute as principais controvérsias políticas, morais, científicas e culturais de nosso tempo, contribuindo inclusive com intervenções em revistas e jornais de prestígio, como a Der Spiegel e o Die Zeit de sua Alemanha natal.

Ele mesmo considera a 'esfera pública', entendida como espaço do trato comunicativo e racional entre as pessoas, o tema que o persegue a vida toda. Sua existência foi marcada, na infância, pela experiência traumática de intervenções cirúrgicas numa fissura labiopalatal; na adolescência, pelo nazismo e a Segunda Guerra Mundial - apesar da "sorte de ter nascido mais tarde", já que, aos dezesseis anos, testemunhou a derrocada do regime nazista sem ter participado das atrocidades reveladas após 1945 nos processos contra criminosos de guerra -, e no decorrer de sua vida adulta pelas inquietações ligadas aos destinos da sociedade alemã do pós-guerra, tanto na abertura cultural para o Ocidente quanto na reeducação política sob impulso democrático. Habermas é um filósofo rigoroso e suas análises meticulosas requerem do leitor não apenas paciência conceitual, mas também vasto conhecimento da história das ideias.


Reprodução
Mark Horkheimer (esq.), Theodor Adorno (dir.), Habermas (fundo à direita), em Heidelberg, 1965


Formação

Habermas fez seus estudos universitários em Zurich, Göttingen e Bonn. Do ponto de vista acadêmico, formou-se no contexto provinciano da filosofia alemã da época, sob a forma de um neokantismo declinante, da fenomenologia e também da antropologia filosófica, defendendo em 1954 uma tese de doutorado sobre Schelling. Dois anos depois, com apenas 27 anos, tornou-se assistente de Theodor W. Adorno na Universidade de Frankfurt, onde trabalhou até o final da década. Neste período, demonstrou vários interesses, seja por pesquisas empíricas sobre comunicação de massa e sociologia política, seja por estudos acerca do marxismo, da Escola de Frankfurt e dos clássicos das ciências sociais. Os dois primeiros livros de Habermas - Mudança estrutural da esfera pública (1962) e Teoria e prática (1963) - cristalizam o que considera uma tentativa de prosseguir o marxismo hegeliano e weberiano dos anos 1920 com outros meios, tentativa que lhe rendeu abertura para horizontes de experiência diferentes e decididamente mais largos, ou seja, livres do provincianismo e do idealismo. O primeiro livro é resultado de uma tese de livre-docência em Sociologia defendida na Universidade de Marburgo.

De 1961 a 1964, Habermas trabalhou como professor de Filosofia em Heidelberg, regressando então a Frankfurt para ocupar a cadeira de Filosofia e Sociologia pertencente a Max Horkheimer. Naqueles anos 1960, as intervenções acadêmicas e políticas se multiplicaram. Ao lado de uma efetiva participação no nascente e acalorado movimento estudantil, Habermas reencontrou seu caminho filosófico pelas vias da hermenêutica, do pragmatismo e da filosofia da linguagem, o que demonstra sua dívida com a obra de Hans-Georg Gadamer e as sugestões de seu amigo Karl-Otto Apel. Por outro lado, Habermas engajou-se na querela sobre o positivismo e concentrou boa parte de seus esforços teóricos em questões de ordem epistemológica, visando fornecer bases metodológicas mais sólidas para uma teoria crítica da sociedade. As obras de referência do período são as conhecidas Técnica e ciência como 'ideologia' e Conhecimento e interesse, ambas de 1968, bem como a menos comentada, mas não menos importante, Sobre a lógica das ciências sociais, de 1970. A distância de cerca de 15 anos permitirá a Habermas afirmar que desde o princípio seus interesses teóricos estiveram fundamentalmente determinados pelos problemas filosóficos e socioteóricos emergentes do movimento de pensamento que vai de Kant a Marx, contribuindo sobretudo para o projeto de renovação da teoria da sociedade fundada na tradição do marxismo ocidental.

"Giro linguístico"

Na década de 1970, que representou uma etapa de elaboração e sistematização de seu contributo teórico, culminando com a publicação de sua obra mais reputada - a volumosa Teoria do agir comunicativo (1981) -, Habermas trabalhou como diretor do Instituto Max Planck, em Starnberg, perto de Munique. Nessa obra fica patente o 'giro linguístico' produzido pelo autor na teoria crítica da sociedade, fruto da capacidade em adicionar e integrar novas perspectivas ao seu projeto teórico originário. Com efeito, os escritos dos anos 70, posteriormente reunidos em Estudos preliminares e complementos à teoria do agir comunicativo (1984), correspondem à montagem da teoria habermasiana da comunicação, da qual obras como A crise de legitimação no capitalismo tardio (1973) e Para a reconstrução do materialismo histórico (1976) fazem uso concreto de certos elementos.

A intuição central de que na comunicação linguística está implícita a busca pelo entendimento recíproco, ideia que conduziu Habermas aos princípios filosóficos que destacam a constituição intersubjetiva do espírito humano, é tratada à luz das teorias: (a) do agir comunicativo, tecendo um conceito constitutivo de ação social orientada à intercompreensão; (b) da racionalidade, elaborando uma noção mais englobante de razão com a consequente superação da perspectiva monológica da filosofia do sujeito; (c) da sociedade, desenvolvendo um conceito de sociedade que integra a teoria dos sistemas com a teoria da ação, de modo a distinguir e a conjugar as esferas do sistema e do mundo da vida; (d) da modernidade, propondo uma releitura da dialética da racionalização, pela qual se possa discernir seus fenômenos patológicos a fim de contribuir para um redirecionamento, ao invés do mero abandono, do projeto da modernidade. E tudo isto com base na tese fundamental segundo a qual nós nos encontramos preliminarmente no elemento da linguagem, que existe, antes e acima de tudo, para a comunicação entre as pessoas sobre algo no mundo, e em cujo processo cada um pode tomar posição pelo 'sim' ou pelo 'não' perante as pretensões de validade de um outro.


Foto: Reprodução
Para Habermas, a educação deve ser compreendida no sentido mais abrangente possível, abrigando formação social, cultural e científica


Escritor prolífico

Excluídos alguns cursos em universidades fora da Alemanha, Habermas manteve-se cerca de uma década afastado do meio acadêmico, integralmente dedicado às pesquisas, e retomando, a partir de inícios dos anos 1980, o magistério na Universidade de Frankfurt, de onde retirou-se em 1993, embora siga atuando como professor visitante em universidades americanas, tais como a Northwestern, em Chicago, e a New School, em Nova York. Tendo atingido a sua maturidade intelectual, Habermas passou a ampliar consideravelmente os campos de aplicação da teoria do agir comunicativo, quer na fundação da chamada Ética do Discurso - Consciência moral e agir comunicativo (1983) e Comentários à ética do discurso (1991) -, na explicitação das premissas filosóficas da modernidade (O discurso filosófico da modernidade: 1985), na compreensão do novo papel desempenhado pelo saber filosófico no contexto da guinada linguística - Pensamento pós-metafísico (1988) -, na elaboração da teoria discursiva do direito e da democracia - Direito e democracia (1992) - e do conteúdo universalista dos princípios republicanos - A inclusão do outro (1996) -, quer ainda nas intervenções sobre temáticas atuais, quase sempre reunidas sob a forma de escritos políticos sucessivos, que somam a impressionante marca de 11 volumes até o ano de 2008.

Habermas também tratou da relação entre teoria e prática a partir da questão ontológica do naturalismo e da questão epistemológica do realismo, ambas fundamentais no âmbito da filosofia teórica ( Verdade e justificação: 1999), reatando com problemas deixados em segundo plano nas décadas de 1980 e 90, nas quais claramente predominaram os temas de filosofia prática. Recentemente envolveu-se na área da bioética, particularmente na discussão desencadeada pelas técnicas genéticas - O futuro da natureza humana (2001) -, e, para surpresa de muitos, interessa-se progressivamente pela questão da religião, seja em virtude do desafio cognitivo representado pela persistência desse fenômeno num ambiente secularizado - Fé e saber (2002) -, seja pelo significado e o papel da religião na esfera política pública - Entre naturalismo e religião (2005).

O mote habermasiano de que as questões práticas são passíveis de argumentação racional constitui - em minha opinião - o principal atrativo de seu pensamento. Numa época marcada por tendências favoráveis ao relativismo e ao perspectivismo, com a resultante celebração acrítica de tudo que é (ou parece) diferente, é notável o empenho do pensador alemão em esgaravatar, como ele diz, um pouco aqui, um pouco acolá, à procura dos vestígios de uma razão que reconduza, sem apagar as distâncias, que una, sem reduzir o que é distinto ao mesmo denominador, que entre estranhos torne reconhecível o que é comum, mas deixe ao outro a sua alteridade. Esse traço de uma razão comunicativa cética, porém não derrotista, é encontrado nas diversas facetas do pensamento de Habermas, notadamente nas contribuições nos campos da moral, do direito e da política. Um ponto que ilustra sobremaneira tal perspectiva é a ideia discursiva segundo a qual o reconhecimento dos indivíduos como pessoas responsáveis consiste em tomá-las seriamente como agentes que podem e devem ter voz na validação de normas e leis às quais eles próprios estão sujeitos. Daí o princípio do discurso inerente ao uso da linguagem, cuja formulação é a seguinte: "São válidas as normas de ação às quais todos os possíveis atingidos poderiam dar o seu assentimento, na qualidade de participantes de discursos racionais".

A introdução do princípio discursivo permite a Habermas defender a relação interna entre autonomia privada e autonomia pública, proporcionando uma justificação do Estado democrático de direito na qual os direitos humanos e a soberania popular desempenham papéis distintos, irredutíveis, porém complementares. E sua formulação torna evidente que a pedra de toque de toda justificação normativa reside num acordo fundado em razões publicamente acessíveis, de tal modo que os princípios políticos respeitosos da diversidade das opiniões filosóficas, morais e religiosas entre as pessoas devem ser sustentados mediante o critério da aceitabilidade racional. Habermas adota, pois, uma concepção procedimental de 'justiça', segundo a qual a validade das normas é estabelecida num procedimento argumentativo representativo da racionalidade prática dos próprios concernidos, e um modelo deliberativo de 'democracia', que se refere à ideia de que a normatização legítima procede da deliberação pública dos cidadãos. É como pensador da razão pública, original e fecundo, que Habermas ocupa posição de destaque na alvorada do século.

Ambivalência moral e política do mundo moderno

No Brasil, onde o debate acadêmico ainda imagina um país dominado pelo "jeitinho", a teoria habermasiana pode ser ricamente aproveitada

Jessé de Souza

Um grande pensador como Habermas pode ser compreendido de muitas maneiras e sua obra permite várias possibilidades de introdução. Escolho meu caminho elegendo a questão da "esfera pública" e, consequentemente, a questão da ambiguidade e positividade moral do Ocidente, como a questão mais relevante e mais atual deste pensador contemporâneo tão importante e influente.

Apesar da enorme divergência com relação ao quadro de referência teórico, existe um ponto em comum, na visão de todos os grandes clássicos das ciências sociais, acerca da peculiaridade da moderna sociedade capitalista: Estado racional burocratizado e mercado competitivo capitalista são percebidos como as instituições estruturantes do novo sistema social nascente. Para Karl Marx e Max Weber, por exemplo, as patologias do mundo moderno e capitalista têm a ver com os efeitos dessas instituições combinadas tanto na perversão da formação da vontade política quanto na fragmentação da consciência e da autonomia individual em todas as dimensões da vida.

As primeiras gerações da Escola de Frankfurt, à qual Habermas pertence como rebento tardio, haviam, precisamente, conseguido juntar a força combinada desses clássicos para mostrar a ubiquidade e a nova opacidade da dominação capitalista tardia: homens e mulheres escravizados por uma lógica mesquinha e impessoal ao mesmo tempo em que se imaginavam livres e senhores do próprio destino.

"Terceira" instituição

Habermas não iria negar a validade desse diagnóstico. Mas ele iria dedicar toda sua vida para matizá-lo e torná-lo mais complexo. Habermas é o pensador de uma "terceira" instituição típica do moderno mundo capitalista, além de mercado e Estado, que ele chama de "esfera pública". Essa me parece sua grande novidade como pensador crítico. Sem negar a lógica heterônoma que habita Estado e mercado, Habermas defende que a modernidade é "ambígua", ou melhor, "ambivalente", na medida em que possibilitou, também, processos de aprendizados coletivos, ancorados institucionalmente no que ele chama de esfera pública.

Desse modo, a comparação entre sociedades modernas concretas pode e deve se dar, não apenas se aferindo a eficácia diferencial do mercado e do Estado em cada uma delas, mas, também, a partir da maneira mais ou menos consequente na qual uma esfera pública plural e democrática logrou se institucionalizar.

O conceito de esfera pública já é o tema principal da tese de livre docência de Habermas de 1962, no início de sua carreira, denominada "Mudança estrutural da esfera pública". Neste livro, Habermas percebe a formação histórica de uma instituição singular, especificamente "moderna". "Moderna" não apenas porque começa a se delinear historicamente na segunda metade do século 18, mas porque pressupõe "estímulos" modernos como o aumento da troca de mercadorias implicando também a troca de informações e ideias ou a institucionalização da liberdade de confissão engendrando, pela primeira vez, a possibilidade de construção de uma esfera "privada", apartada do público e de sua vigilância.

Afinal, é precisamente uma recém estabelecida esfera privada fundada na autocrítica e na prática reflexiva da vida individual e de suas escolhas - possibilitada por novos meios como, dentre outros, o romance psicológico moderno - que irá possibilitar a transposição da lógica de uma nova racionalidade privada também para os assuntos públicos da coletividade.

É a partir daí que o poder político passa a necessitar, para sua legitimação, de "justificar-se" perante um público de pessoas cultas. Habermas percebe aqui o nascimento de algo qualitativamente novo, ainda que no livro de 1962 a entrada da grande imprensa e da indústria cultural, que se impõem a partir do final do século 19, seja percebida, muito ao gosto dos "velhos frankfurtianos", como uma história unilateral de decadência e de empobrecimento do espírito público.

Ainda assim, ninguém havia percebido antes dele, com tanta clareza, o ganho histórico tanto social quanto político, propiciado pela reflexão e pela possibilidade de autocrítica seja na dimensão privada seja na dimensão pública. Mais ainda, esse potencial crítico é percebido por Habermas como "inscrito na própria ordem social" sendo, portanto, passível de verificação empírica.


Foto: Reprodução
Com o então cardeal Ratzinger, na Academia Católica da Baviera, Munique, 2004


Em outros livros seminais como o Técnica e ciência como ideologia, (1969), e na sua obra magna A teoria do agir comunicativo (1981), Habermas retoma sua senda original armado da ambição científica de tentar demonstrar a existência empírica de uma racionalidade "comunicativa" que não se confundiria com a racionalidade instrumental e sistêmica de Estado e mercado.

O contexto histórico que lhe confere plausibilidade é a expansão inaudita, depois da Segunda Guerra Mundial, da social-democracia europeia e suas conquistas como boa educação ao alcance de todos. Em vez de apenas cego consumismo e domínio absoluto de necessidades materiais, temos, nessa época, a discussão pública de vários temas como expansão dos direitos sociais, libertação feminina e, finalmente, mudanças importantes na forma de perceber a autoridade e o poder político.

Para Habermas, esses "avanços" refletem precisamente possibilidades importantes de "aprendizado moral e político" da modernidade capitalista, sem que isso implique desconhecer os efeitos "colonizadores" da lógica do poder e do dinheiro. Captar essa "ambiguidade tensa" entre dominação opaca e imperceptível, por um lado, e novas possibilidades de aprendizado coletivo, por outro lado, foi o grande desiderato da vida desse pensador.

O conceito de "ação comunicativa" é central nessa empreitada. Ele serve para mostrar, na dimensão da ação social concreta, que o comportamento efetivo dos indivíduos pressupõe uma relação interna com valores morais e políticos que foi, historicamente, tornada possível, pela expansão do horizonte reflexivo possibilitado pela capacidade, historicamente recente, de se autocriticar como indivíduo e como sociedade.

Habermas no Brasil: "jeitinho" e "mal misterioso"

No Brasil, onde um velho debate acadêmico ainda imagina o país dominado pelo "jeitinho" ou por "relações pessoais pré-modernas" - como se aqui um "mal de origem" misterioso tivesse impedido que mercado e Estado (apenas no Brasil, dentre todos os países do globo) deixasse de desenvolver as virtualidades de uma sociedade moderna e impessoal - a teoria habermasiana pode ser ricamente aproveitada.

Foto: Reprodução
Habermas é o pensador de uma "terceira" intituição do mundo capitalista, além de mercado e Estado, a "esfera pública"

Num registro "habermasiano", os problemas sociais brasileiros parecem decorrentes de uma "colonização" quase absoluta dos interesses do mercado e do dinheiro sobre todas as outras esferas sociais. Como aqui não se desenvolveu uma esfera pública crítica - a não ser episodicamente - não se desenvolveu também consensos morais e políticos capazes de se opor ao simples uso indiscriminado de tudo e de todos com o fito de lucro.

A permanência e a naturalização da abissal desigualdade social brasileira em todas as dimensões advêm, portanto, não de um "jeitinho" corrupto que é sempre do Estado (demonizado) e nunca do mercado (divinizado) - como na visão de nosso liberalismo dominante que é conservador e pseudocrítico - mas da falta de capacidade de autocrítica que perpassa toda a sociedade.

Pensadores críticos, como Habermas, não devem ser usados apenas como meio de "distinção erudita", como mero "adorno da inteligência", como um fim em si, como é tão comum entre nós. Eles são uma "arma prática" para se perceber nossa própria sociedade de outro modo, mais crítico e menos autoindulgente e superficial como nos acostumamos a nos perceber.


Texto elaborado por Luiz Bernardo Leite Araújo, publicado na revista CULT Ed. 136

terça-feira, 16 de junho de 2009

Sala de aula mais animada


Avalie os prós e contras do uso em classe de programas de animação, como o Scratch, criado pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts.


O Scratch é um programa gratuito, voltado para crianças e jovens, que permite a criação de animações. Criado pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), o “criador de animações” tem entusiasmado professores no mundo inteiro e já tem uma versão disponível em português. Segundo Mitchel Resnik, diretor do MIT e um dos criadores do Scratch, a sociedade moderna exige que os alunos pensem, cada vez mais, criativamente. Mitchel defende a ideia de que seu programa ajudaria crianças e professores a repensar a educação, tendo em vista a necessidade criativa alimentada pela difusão de novas tecnologias.


O criador de animações tem uma linguagem simples que, como dito no site oficial do programa, se assemelha ao Lego. A interface do Scratch é, realmente, muito intuitiva. Existem pequenas barras que tratam dos movimentos, sons e interfaces. Essas barras, conectadas entre si, fazem com que um objeto se mova. O programa tem linguagem lúdica que não necessita de nenhum conhecimento prévio de programação.


O site oficial do programa (http://scratch.mit.edu) oferece, além do download gratuito, um verdadeiro ambiente de troca de ideias e projetos. O usuário que faz um cadastro no site tem a possibilidade de inserir em uma galeria virtual as animações que sua classe produziu. As criações não se limitam a animações, mas podem ser, também, pequenos jogos. Além disso, os criadores do programa têm um cuidado especial com os educadores interessados em fazer uso dessa tecnologia. Para eles, criaram fóruns de discussão no site, inclusive em português.


Uma experiência com o Scratch


A professora carioca Tatiane Martins fez, recentemente, uma experiência com o Scratch nas suas turmas de Língua Portuguesa do Colégio Santo Agostinho. O trabalho com o programa foi elaborado dentro de uma WebQuest, que tinha como tema o Rio de Janeiro da época de Machado de Assis. “A tarefa era a produção, em animação, de uma passagem de um dos quinze contos de Machado de Assis lidos pela turma”, conta Tatiane. Segundo a professora o trabalho foi interdisciplinar, passeando entre as disciplinas de Língua Portuguesa e Informática. Tatiane explica que, do ponto de vista de sua matéria, o uso do Scratch foi útil, pois motivou os alunos a ler os contos selecionados.


O professor de Informática da escola, José Emílio Ventura, acredita que o Scratch é um programa de manuseio simples. “Os alunos já estão acostumados com o uso de diversas formas de tecnologia e por isso não encontram problemas para trabalhar com o Scratch, que tem uma linguagem operacional muito simples”, explica Ventura. Tatiane, que se diz leiga quando o assunto é computador, conta que conseguiu desenvolver algumas animações e imagina que o programa deve ser simples para alguém que já nasceu em contato com esse tipo de tecnologia. “Levei o programa para casa e meu filho de 9 anos, que sonha ser programador de jogos de videogame, conseguiu desenvolver, sozinho, uma animação”, conta a professora.


Tatiane e Ventura enxergam diversos pontos positivos no uso do software em sala de aula. “Cada movimento criado no programa tem o seu tempo e sua ordem, os alunos precisam desenvolvê-los de modo que tenham começo, meio e fim. Isso é muito semelhante à estrutura sintática e toda a ‘costura’ que um texto deve ter”, explica a professora, que diz usar esse exemplo quando trata de redação com seus alunos. “O Scratch possibilita uma nova forma de se reproduzir uma ideia, a partir da criação de uma animação”, conclui Ventura.


A única ressalva feita por Tatiane é que a utilização do programa demanda tempo e isso pode acarretar na “perda de conteúdo” formal. No entanto, no saldo de prós e contras, tanto a professora de Português como o de Informática acreditam que a utilização do programa seja positiva. “O Scratch ajuda a treinar outras formas de descrição de uma ideia, saindo do padrão de textos e animações tutoradas. A criação fica totalmente na mão do aluno”, finalizam.


Simuladores de fenômenos e conceitos


O professor de Física José Carlos Antonio, da Escola Estadual Neuza Maria Nazatto, de Santa Bárbara D’Oeste (SP), trabalha com o uso pedagógico de Tecnologia da Informação e Comunicação e faz algumas críticas à utilização de softwares como o Scratch. Assim como Tatiane, Antonio faz ressalvas ao tempo levado para a produção de animações. Segundo o professor, o uso desses programas deve ser bem orientado e definido, em caso contrário, corre-se o risco de se perder o foco do trabalho. Antonio diz que, particularmente, não é um entusiasta do Scratch, por acreditar que o programa requer um tempo que nem sempre existe.


Em vez do Scratch, o professor de Física trabalha com animações, ou melhor, simuladores que já foram produzidos e não demandam o tempo de criação exigido pelo Scratch. “Uma das dificuldades encontradas por professores da área de Ciências diz respeito aos fenômenos e conceitos que requerem experimentação, demonstrações ou representações gráficas, como, por exemplo, o movimento de átomos e a colisão de moléculas”, diz Antonio. Nesse ponto, a veiculação de simulações, posteriormente produzidas, é de extrema utilidade, acredita o professor. “A demonstração desses fenômenos pode ser feita a partir de simuladores, conhecidos como ‘Applets Java’, pequenos programas que rodam a partir dos navegadores e que nos permitem simular, em computador, o comportamento de sistemas físicos.”


Na internet é possível encontrar diversas simulações gratuitas, como as usada por Antonio. “Basta digitar na busca do Google ‘applets Java’ e o nome da disciplina que você leciona e aparecerão centenas de links com applets à disposição”, sugere o professor.


Texto elaborado por André de Oliveira.

Caiu na rede é peixe

Os blogs viram ferramenta para a circulação ilegal na internet e a indústria abre fogo contra comunidades do Orkut.

Na noite do domingo 15, a equipe coordenadora da comunidade Discografias, do site de relacionamentos Orkut, jogou a toalha, decretou o fechamento de suas portas virtuais e apagou por conta própria todo o conteúdo acumulado em quase quatro anos por 920 mil integrantes.


O conteúdo era música, toneladas virtuais de música compartilhadas pelos participantes de modo gratuito. Ou era pirataria, ilegalidade, crime, de acordo com o argumento usado por corporações musicais que pressionavam a população da Discografias a parar de infringir direitos autorais de compositores, músicos, produtores, editoras e gravadoras.


Um aviso ficou no lugar do maior fórum brasileiro de troca de música: “Informamos a todos os membros da comunidade Discografias e relacionadas que encerramos as atividades, devido às ameaças que estamos sofrendo da APCM e outros órgãos de defesa dos direitos autorais”. APCM é a sigla para Associação Antipirataria Cinema e Música, criada há um ano pelas indústrias fonográfica e cinematográfica, e dirigida por um ex-delegado.


Em comunicado oficial, a APCM confirmou que havia meses acompanhava e solicitava a retirada de links. “Já estava claro que a comunidade se dedicava a disponibilizar músicas de forma ilegal, ignorando todos os canais legais de divulgação e uma cadeia produtiva de compositores, autores, cantores, produtores fonográficos, etc.” E acrescentou considerar um “avanço positivo” a exclusão da Discografias.


O episódio é apenas a ponta visível de um fenômeno mundial de enormes proporções, que transformou a internet num admirável mundo novo para usuários, tanto quanto um inferno para os produtores da cultura antes vendida no formato de CDs e DVDs. Por baixo da pequena multidão reunida numa comunidade do Orkut, há proliferação vertiginosa de blogs e outros recursos de internet dedicados majoritariamente a ofertar download instantâneo e gratuito de discos, filmes e livros.


Tudo está disponível ali para ser compartilhado em qualquer lugar do planeta, do recente filme Gomorra a Louco por Você, um disco cuja reedição é vetada há 48 anos por Roberto Carlos. No campo editorial, o Portal Detonando desenvolve o chamado Projeto Democratização da Leitura – Biblioteca Virtual Gratuita, de downloads de livros. “Compartilhar, nesses casos, é o equivalente a disponibilizar, que por sua vez é uma forma de distribuição. Conteúdo protegido por direito autoral só pode ser disponibilizado por seus titulares”, reage o diretor-executivo da APCM, Antonio Borges Filho.


Mas, à diferença do que aconteceu na fase da pirataria física, hoje não é uma máfia ou o crime organizado que desrespeitam os cânones do direito autoral. Os blogueiros, a maioria deles anônima, são em geral colecionadores de discos, DVDs e livros que descobriram nos blogs a chave para participar do processo cultural, compartilhando seus acervos privados com o resto do mundo.


Em grande medida, são cidadãos comuns (médicos, fotógrafos, técnicos de informática, estudantes), desacostumados aos holofotes da mídia e distantes, inclusive geograficamente, dos bastidores do mercado cultural. De cinco blogueiros ouvidos por CartaCapital, todos garantiram não ganhar nenhum centavo (ao contrário, dizem investir dinheiro na atividade). Portanto, não aceitam o termo “pirata” nem se consideram como tal.


Cada blogueiro demonstra construir uma ética própria, e às vezes critica o que considera “errado” no comportamento do vizinho, mas não em seu próprio. “Acho estranho jogar na rede o trabalho de alguém que ficou dez anos sem gravar e agora fez um disco. É sacanagem”, afirma Mauro Caldas, de 44 anos, integrante de banda punk no Rio de Janeiro dos anos 80, que hoje trabalha em informática e é o único dos blogueiros entrevistados a abrir publicamente sua identidade.


Ele usa o codinome Zeca Louro no Loronix, um dos mais atuantes e abrangentes blogs musicais do Brasil. Escrito em inglês, recebe em média 3,2 mil visitas por dia e já foi acessado em 191 países, segundo Caldas. “Loronix só publica o que é antigo, sem nenhuma possibilidade comercial. Essa distinção a indústria sabe fazer muito bem”, diz, para justificar o fato de nunca ter sido incomodado ou ameaçado. Ao contrário: “Gente da indústria vem até mim, pergunta se tenho determinado disco, pede a capa se vai relançar. Eu colaboro”.


Outro blogueiro, autoapelidado Eterno Contestador e especializado em compartilhar CDs que ainda não chegaram às lojas, defende sua atitude. Diz que não distribui nada de maneira ilegal ou pirata, apenas copia links existentes na rede. E insinua que esses são vazados por integrantes da própria indústria, como jogada de marketing.


O produtor musical Pena Schmidt, ex-executivo de gravadoras e atual diretor do Auditório Ibirapuera, tem argumento semelhante: “A indústria sempre deitou e rolou com o vazamento do novo disco do Roberto Carlos ou do Michael Jackson, sempre deu para poder vender. Na época do piano de rolo, Chiquinha Gonzaga e Zequinha de Abreu eram demonstradores de lojas, tocavam para chamar a atenção das pessoas. Gravadora tocava música de graça no rádio por quê? Para vender música”. A diferença é que antes os vazamentos podiam ser controlados e se dirigiam a uns poucos “formadores de opinião”. Hoje, basta uma cópia cair na rede e pronto, a obra é de todo mundo e não é mais de ninguém.


O produtor Marco Mazzola, dono da gravadora MZA, defende a estratégia punitiva: “Medidas radicais devem ser tomadas, punindo, prendendo os que praticam. Você fica três meses dentro de um estúdio criando com o artista um CD, gasta em músicos, estúdios, capa, marketing, e antes de o produto estar no mercado já está na rede”. Schmidt discorda: “A lei não se encontra com a realidade digital. Por causa de 22 pessoas, 50 milhões se transformaram em criminosos? Não é mais fácil refazer a legislação?”


Se as gravadoras se desesperam com a perda de valor do material plástico que as sustentava, nebulosa é a posição dos artistas e criadores. “A indústria alega a defesa do direito dos autores, mas não é verdade, é só discurso. É a defesa de um modelo de negócio. Não sabem fazer de outra maneira e querem que o resto do mundo todo pare”, diz Schmidt. “Autor não fala sobre o assunto, a não ser que seja diretor de sociedade arrecadadora, como Fernando Brant, Ronaldo Bastos, Walter Franco.”


CartaCapital procurou ouvir os três citados, entre outros, mas não obteve respostas. Uma possível razão para o silêncio é dada indiretamente pelos blogueiros. Diz um deles, identificado como Fulano Sicrano: “Meu blog adquiriu notoriedade entre artistas e produtores e, atualmente, uma parte do que é publicado é fornecida por eles próprios, à busca de divulgação”. Fulano é mantenedor do Um Que Tenha, que põe na rede novidades musicais, e, segundo ele, recebe 14 mil visitas diárias. “Embora deseje que seu trabalho tenha o máximo de divulgação possível, o artista teme a indisposição com a gravadora, por isso o sigilo”, afirma.


O blogueiro diz receber também e-mails de gravadoras, produtores e artistas que solicitam a retirada de conteúdo. Afirma atendê-los prontamente. Seja repressor ou legitimador, o contato direto com músicos e outros fãs parece ser uma das recompensas pelas dez ou doze horas semanais dedicadas a blogar discos. “Pelo seu ângulo, pode até ser generosidade. Pelo meu, não. Eu me sinto tão bem publicando o UQT que isso passou a ser um ato de puro egoísmo.”


Zeca Louro também cita a notoriedade adquirida no meio musical: “O máximo que me aconteceu foi um ou dois casos de alguém comercialmente ligado a um artista dizer ‘poxa, seria legal você não ter mais o disco aí’. Imediatamente tirei, mas num dos casos o próprio artista reclamou, pediu para contornar. Tem artista que reclama de não ter nada no blog, pergunta se tenho alguma coisa contra ele. Muitos são avessos à tecnologia, eu ajudo”.


Nos bastidores, poucos admitem praticar pirataria virtual, mas há quem o propague aos quatro ventos, caso de Carlos Eduardo Miranda, produtor de grupos de rock e jurado dos programas de tevê Ídolos e Astros. “Sou fã dos blogs de música, muito mesmo. Sou usuário.” Em guerra retórica com a indústria, devolve aos acusadores as acusações de pirataria, roubo, crime: “Deveriam tomar vergonha na cara, porque estão vendendo a mesma música várias vezes, em vinil, depois em CD, depois em MP3. Já paguei, preciso pagar quantas vezes? Quando vão parar de me roubar? Se o artista se acha importante para a cultura, não pode fazer nada que impeça a circulação, senão ele é criminoso também”.


E desafia: “Compro 40 CDs por mês, poucos compram tanto como eu. Sou um criminoso? Os caras estão brigando com quem os sustentou a vida inteira. Deviam contratar os blogueiros para serem executivos deles”. Miranda antevê soluções futuras para o conflito: “Ninguém mais vai precisar guardar nada, e você vai ter acesso a todas as músicas do mundo. Vai ligar o botão como se fosse rádio e escolher. Que se pague uma mensalidade, como paga água e luz, e o problema vai acabar”.


A APCM confirma a pressão sobre os piratas, mas nega fazer “ameaças”. “Não estamos no campo da repressão, muito menos na área policial”, diz Borges Filho. “Fazemos a solicitação ao provedor, no caso o Google, para a retirada de conteúdo ou links.”


“Não aceitamos pressão da indústria fonográfica”, diz Felix Ximenes, diretor de comunicação local do Google, dono do Orkut e do gerador de blogs Blogger. “Nosso compromisso é com o usuário, com quem buscamos compartilhar responsabilidades.” O Google baseia-se na política de receber denúncias, verificar e tirar do ar se for o caso. “Antes, só tínhamos apagado links que levavam a produtos de copyright. O fechamento da Discografias foi um ato do próprio coordenador, que a desarticulou sob protesto, pelas ameaças da APCM. O Orkut é mais visível, eles preferem ir onde há volume.”


“Nunca recebi nenhum e-mail de censura, ameaças ou coisa parecida”, atesta Augusto TM, do Toque Musical, outro dos blogs recheados de raridades. “Isso se deve, acredito, à minha postura de não levar para o blog coisas que se encontram em catálogo nem fazer negócio, comércio ou propaganda.” No início do ano, o Toque Musical protagonizou comoção ao publicar a gravação caseira de uma sessão feita por João Gilberto em 1958, imediatamente antes da fama.


A fita fora vendida para japoneses e já não era propriedade brasileira, como acontece com todo o relicário musical pertencente às multinacionais do disco. Caiu na rede mundial, e o Toque Musical, com média diária de mil visitantes, foi fechado por algumas semanas. Mas isso ocorreu, segundo o blogueiro, devido a seu próprio temor de alguma reação negativa do cantor. Até hoje João Gilberto não reclamou.



Texto extraido da revista Carta na Educação - Edição 3615/05/2009 elaborado por Pedro Alexandre Sanches